Porque os canudos sumiram (ou como marcas e políticos tentam te manipular)
Você já deve ter se dado conta que hoje estamos muito mais engajados com o menor consumo de itens plásticos, não é? Inclusive, uma grande rede de fast food aboliu a distribuição indiscriminada de canudinhos. Mas será que ela realmente está ajudando o planeta? Hoje, o Econoweek faz uma pausa para pensar se atitudes como essa são ou não bem intencionadas.
Eu, César Esperandio, fui recentemente a um fast food para comer o tradicional trio de hambúrguer, batatinhas e refrigerante. Mas, para a minha surpresa, não havia canudos à disposição. Questionado, o atendente me explicou que essa é a nova postura da marca em benefício do meio ambiente. Afinal, os oceanos estão poluídos, e os animais e a natureza sofrem. Sabemos disso.
Por outro lado, não precisei de tanta atenção para me dar conta que no meu copo de refrigerante havia uma tampa de plástico, bem como a colher do sorvete da menina ao lado também era de plástico. Tudo descartável.
Será que essa marca, que agora não cede mais canudos, realmente está preocupada com o meio ambiente ou apenas quer "fazer bonito", já que o canudo plástico passou a ser o vilão da história?
Calma! Eu também sou a favor do menor consumo de itens plásticos, principalmente os descartáveis. Mas, como bem lembrou o NasDaily, podemos estar sob efeito de "empatia seletiva", pois já vimos a triste imagem de uma tartaruga sofrendo, e isso foi associado ao descarte indevido de resíduos plásticos nos mares. Dentre eles, o canudo.
Empatia, em interpretação livre, é genuinamente se pôr no lugar do próximo, entendendo suas dores e agonias. Seja esse "próximo" uma outra pessoa, um animal, uma causa, ou mesmo a natura.
Empatia seletiva seria escolhermos, mesmo que inconscientemente, nos importarmos com apenas uma parcela dos problemas que existem.
Mas por que nos lembramos disso e esquecemos de todo o resto?
Não precisamos de tanto esforço para recordarmos que quase a totalidade dos produtos vendidos nos supermercados está em embalagens plásticas descartáveis. Mas infelizmente quase nunca nos damos conta disso.
E marcas podem se aproveitar dessa distração para dar a sua contribuição à menor utilização de itens plásticos sem sequer repensar todo o resto de sua cadeia de suprimentos.
Na minha opinião, em alguns casos, isso pode ser puro oportunismo de algumas marcas, que continuam buscando a minimização de custos e a maximização das receitas, enxergando essa oportunidade de marketing para melhorar a imagem sem muito esforço.
Há ainda outro triste caso recente: as queimadas na Amazônia, que aumentaram bastante nesse ano.
Esse é um problema? Claro que é!
Mas por que será que a maioria de nós nasceu, cresceu e continua vivendo ao lado de um rio poluído devido à precária rede de coleta e tratamento de esgoto, embora eu não me lembre de ter visto um protesto sobre isso na avenida Paulista?
Você sabia que, segundo o Trata Brasil, São Paulo só tem metade do esgoto tratado? E isso porque estamos falando da maior cidade do Brasil. Guarulhos, uma cidade enorme logo ao lado, que tem o maior aeroporto internacional do país, tem apenas 30% de seu esgoto tratado. Tudo isso é poluição com impactos imediatos.
Políticos podem ter usado a pauta das queimadas na Amazônia para ganhar capital político, mas o meu palpite é que poucos colocaram a preocupação com o meio ambiente realmente em primeiro lugar.
Eu não estou dizendo que quem protestou contra as queimadas na Amazônia esteja errado. Também não estou dizendo que voltemos a consumir mais canudos plásticos.
Ao contrário, estou convidando os leitores a sermos mais conscientes. Se realmente queremos o planeta mais saudável, antes devemos nos atentar se marcas e políticos não fingem ligar para isso apenas para benefício próprio, para, em seguida, observarmos o tamanho real do problema e podermos tratar do assunto com a magnitude que tomou e com a devida atenção que a natureza merece.
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Sobre os Autores
Yolanda Fordelone: economista e jornalista, teve passagens por grandes jornais nas áreas de economia e finanças, foi professora em um curso de graduação em Economia e hoje coordena uma equipe em um aplicativo de gestão financeira. Além disso, se dedica às finanças pessoais no Econoweek.
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