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Ações da CVC caíram de R$ 60 para R$ 10. Chegou a hora de investir?

César Esperandio

10/04/2020 04h00

As ações da CVC caíram de R$ 60 para R$ 10. Vale a pena comprar para esperar subir ou será que é um mau negócio?

Elas estão custando seis vezes menos. Mas será que elas estão seis vezes mais baratas? Essa não é uma pergunta com resposta tão óbvia como pode parecer.

O economista César Esperandio, do Econoweek, a tradução da economia e do dinheiro, vai mostrar como fazer essa análise, contanto um pouco da história e como o preço das ações da dessa agência de viagens caíram tanto, com base em um relatório sobre a CVC produzido por uma empresa de recomendação de investimentos.

Falência da Avianca

Após a falência da companhia aérea Avianca em abril de 2019, a CVC teve um prejuízo de R$ 15 milhões no segundo trimestre do mesmo ano, já que diversos clientes que tiveram seus voos cancelados também cancelaram o pacote com a agência de viagens.

Além disso, com uma companhia aérea a menos no Brasil, o preço pode ter subido, fazendo alguns repensarem os planos de viajar durante as férias.

A CVC registrou um impacto de R$ 55 milhões no lucro líquido do período, com despesas de reembolsos e outros custos.

E os impactos continuaram nos meses seguintes.

No fim de 2018, a CVC estava cotada em R$ 60,44 na Bolsa. Já ao término do segundo trimestre de 2019, recuou para R$ 49,40, uma perda de 18%.

Mau negócio na Argentina

A CVC adquiriu uma agência de viagens na Argentina em agosto de 2019 por US$ 77 milhões.

Mas, em outubro do mesmo ano, houve eleições presidenciais por lá, a qual teve como vitorioso o candidato Alberto Fernández, que venceu Macri.

Como o novo presidente é considerado mais intervencionista (um governo caracterizado por estar mais presente nas tomadas de decisões da iniciativa privada) e a Argentina infelizmente vive uma crise econômica sem fim, o mercado começou a questionar se essa aquisição tinha sido uma boa ideia.

E as ações da CVC mais uma vez amargaram queda. No final de setembro, as ações da CVC estavam cotadas em R$ 55,40, mas caíram para R$ 40,22 no fim de outubro de 2019. Foi uma queda de 27%.

Essa é uma análise da ação de uma empresa em específico. Mas é fundamental diversificar seus investimentos. O economista do Econoweek, César Esperandio, mostrou como ele perdeu só 1% enquanto a Bolsa caiu 40%, montando uma carteira de investimentos diversificada. Vale a pena o clique.

Óleo nas praias do Nordeste

A desvalorização que acabamos de citar não foi exclusivamente por conta do possível mau negócio na Argentina, que acabou parecendo apenas um detalhe diante do derramamento de óleo no nosso litoral.

No terceiro trimestre de 2019, tivemos a infelicidade de vivenciar um acidente ambiental que levou manchas de óleo denso a várias praias do Nordeste brasileiro, que se espalhou para praticamente todo o litoral do país.

Houve vários turistas que tiveram acidentes com óleo grudado ao corpo.

Com várias praias interditadas, a CVC sentiu imediatamente uma redução nas reservas de pacotes de viagens, com impacto no preço das ações.

Bônus: um detalhe importante do tipo de negócio que a CVC faz é que ela compra com antecedência reservas de hotel e assentos de voos, garantindo um preço muito barato, para vender posteriormente a seus clientes.

Exemplos como a falência da Avianca e a baixa ocupação de hotéis quando o pessoal deixou de ir às praias por causa do óleo derramado mostram a que tipo de risco a CVC está exposta.

Possível erro no balanço

Justamente no último dia útil de fevereiro de 2020, a CVC anunciou que estava averiguando um possível erro contábil no balanço do 4º trimestre, que poderia somar R$ 250 milhões.

Apesar de esse valor não ser gritante frente às suas receitas, isso piorou a imagem da companhia no mercado.

Dólar caro

Antes de falar do atual nível astronômico da cotação do dólar frente à moeda brasileira, em 2019, a alta da moeda foi de 3,5%, chegando a tocar os R$ 4,20 em alguns momentos.

Em 2020, já passamos há muito da barreira dos R$ 5,00.

Esse dólar caro fez vários pacotes de viagens internacionais se tornarem inviáveis para vários turistas, mesmo antes da crise de saúde pública assolar o mundo.

Por outro lado, poderia fazer esse pessoal passar a viajar pelo Brasil, onde a CVC está muito presente. O problema é que nem viagens dentro Brasil estão sendo mais realizadas.

Pandemia

A crise de saúde trouxe dois efeitos adversos para a CVC.

O primeiro é que o fechamento de fronteiras de vários países para conter a disseminação da doença levou a praticamente zero todas as viagens, com pessoas evitando sair de suas casas.

Já o segundo efeito é que há forte momento de incerteza, estresse e aversão ao risco nos mercados globais, fazendo os investidores fugirem de ativos mais arriscados. Principalmente os de setores ligados a turismo e viagens, que são um dos mais impactados.

Antes dessa crise, havia expectativa de recuperação da economia brasileira, que deveria fazer a renda das famílias melhorar e, consequentemente, passarem a viajar mais. Esse fator poderia ser um vetor de mais receita e valorização da ação da CVC.

Mas a pandemia pôs tudo isso em xeque. E ainda está se intensificando.

A ação da CVC encerrou o mês de março precificada em apenas R$ 12,50.

É uma queda de quase 80% do começo de 2019 para cá, quando era vendida acima dos R$ 60.

Quem investiu antes da queda, errou?

Avaliar hoje as decisões tomadas no passado é muito fácil. Ninguém esperava que tudo isso acontecesse.

No começo de 2020, havia empresas de recomendações de investimentos indicando a compra de ações de CVC. Afinal, a economia estava melhorando aos poucos e a expectativa era que os brasileiros voltassem a viajar mais.

Em fevereiro de 2018, a ação da CVC chegou a ser negociada a um preço de 38 vezes os seus lucros acumulados em 12 meses, bem acima da média de 24 vezes dos últimos quatro anos.

Esse número, conhecido como Preço sobre Lucro, mostra que os investidores esperavam um forte crescimento dos lucros da CVC, que não aconteceu. E ainda houve todos esses problemas que afetaram negativamente a companhia.

O que fazer com as ações da CVC?

Olhando tudo isso, muita gente está se perguntando se agora é o momento de comprar mais ações da CVC e aproveitar a recuperação que pode ocorrer depois que tudo se revolver.

Ou será que as ações devem cair ainda mais?

Será que a CVC tem risco de quebrar?

Econoweek investe na CVC?

Antes de eu falar disso, quero lembrar que essa não é uma recomendação para comprar ou se desfazer.

Embora haja relatórios como o que usamos para chegar à conclusão se vale ou não a pena investir na CVC, a recomendação é que todos que estejam interessados em investir aprendam um pouco de valuation, que é uma análise fundamentalista para projetar as receitas, margens, lucros líquidos e fluxo de caixa da companhia, com base nas demonstrações financeiras das empresas que têm ações na Bolsa.

Levante, disponibilizou um relatório sobre a CVC para o público, sendo que há outras casas que oferecem esse tipo de serviço, como a Suno e a Eleven, todas com relatórios de todas ações brasileiras e outros tipos de investimentos.

Eu, César Esperandio, não tenho ações da CVC na minha carteira e não pretendo ter enquanto as coisas não derem sinal de melhora.

Na minha opinião, mesmo depois que o pico dessa crise de saúde passar, os países vão continuar com muitas restrições à circulação, com restaurantes e outros lugares de maior concentração de pessoas com necessidade de se adaptarem para manter maior distância entre as pessoas. Sem contar que podemos ver novas restrições regionais de circulação para evitar a expansão de novos focos de doença que surgirem.

Por tudo isso, imagino que o turismo deverá enfrentar tempos difíceis pela frente.

O mercado costuma precificar com bastante antecedência qualquer perspectiva, seja positiva ou negativa. E quem não investir agora poderia estar perdendo a oportunidade de lucrar caso as ações da CVC voltem a subir para níveis anteriores? Sim. Porém, hoje, muitos não se sentem confortáveis em fazer esse investimento arriscado.

Você investiria na CVC? Ou está de olho em alguma outra oportunidade? Conte aqui nos comentários ou fale com a gente no nosso canal do YouTubeInstagram e LinkedIn. Também é possível ouvir nossos podcasts no Spotify. A gente sempre compartilha muito conhecimento sobre economia, finanças e investimentos. Afinal, o conhecimento é sempre uma saída!

Sobre os Autores

César Esperandio: economista com ênfase em planejamento financeiro, com larga experiência no mercado financeiro. Já atuou em setores macroeconômicos de bancos e consultorias, além de ter passado por empresa de pesquisas de mercado. Hoje se dedica exclusivamente ao Econoweek, com foco em investimentos.

Yolanda Fordelone: economista e jornalista, teve passagens por grandes jornais nas áreas de economia e finanças, foi professora em um curso de graduação em Economia e hoje coordena uma equipe em um aplicativo de gestão financeira. Além disso, se dedica às finanças pessoais no Econoweek.

Sobre o Blog

O Econoweek é um blog escrito por dois economistas que querem traduzir a economia, as finanças e o dinheiro.